Todo mundo está conectado à internet. Quando tentamos colocar em imagens o significado desta frase, tenho certeza que imagens de crianças usando smartphone, adolescentes ouvindo músicas em streaming e adultos trabalhando com o laptop em um coworking já preenchem nossa cabeça num primeiro momento. Sim, é fato que todos esses estão conectados. Mas por que não imaginamos um homem de 65 anos correndo uma maratona enquanto olha seu smartwatch conferindo os dados do percurso?

Este é o nosso conhecimento pré-concebido sobre as coisas criando verdades que nem sempre são a realidade. Muito comum quando empresas planejam estratégias de marcas e novos produtos. Por essa razão, fui surpreendido recentemente com um conteúdo muito bem elaborado de pesquisas chamado Tsunami 60+, onde foram coletados dados de pessoas da terceira idade e seus hábitos. E o resultado é realmente um “conteúdo obrigatório para todas as marcas que querem sobreviver no século XXI”. Pode parecer uma mensagem de pânico, mas vamos refletir um pouco mais sobre esses números e você vai entender.

Números que dizem mais que suposições

Segundo a ONU, tínhamos 962 milhões de pessoas acima de 60 anos no mundo. Este número irá saltar para mais que o dobro: 2,1 bilhões em 2050. Com a matemática de que a expectativa de vida está crescendo muito – era de 45 anos em 1940 e hoje já ultrapassamos 75 anos no Brasil – e as pessoas tendo cada vez menos filhos – média de 6 no Brasil em 1960 e hoje está na pequena marca de 1,7 – já é possível adiantar que este público será 25% da população mundial daqui 30 anos. Qual marca não gostaria de estar preparada para isso?

Então é hora de deixar de lado as falsas verdades que tanto vemos por aí. Temos uma enxurrada de conteúdos somente focados nos Millenials – geração que nasceu na era da internet – mas que não pode ser visto como único nos dias de hoje. As gerações de pessoas são muito diversas e a sensação que temos é que as marcas estão focadas somente no jovem.

E qual a consequência disso na prática? Estamos deixando de lado um público que não se enxerga neste estereótipo de beleza e padrões midiáticos de tudo o que vê por aí. Mas, mesmo fora da mira, teve um aumento de consumo três vezes maior do que o público jovem na última década. Eles têm poder de fogo para isso. Afinal, mais de 90% deles acima de 75 anos têm renda própria.

O maior engano é achar que todos eles estão em casa tomando chá e assistindo o movimento da rua pela janela. Muitos trabalham, sustentam famílias (inclusive muitos Millenials) e estão cada vez mais conectados. Principalmente no Facebook – de acordo com pesquisa comScore, 84,2% dos internautas brasileiros com mais de 55 anos estão na rede social – e WhatsApp. Se exercitam, jogam videogame, fazem viagens, consomem.

As marcas ainda estão aprendendo (ou não)

E o que você tem visto de campanhas de comunicação para eles? Ainda muito pouco. Não é só a comunicação e marketing que estão despreparados para este público, mas as estruturas, produtos e serviços principalmente. O público brasileiro é muito ligado à beleza física dentro dos padrões da mídia, sempre relacionada à juventude. Não é à toa que nosso país é o segundo no mundo em cirurgias plásticas e academias. Tudo isso faz crescer a distância do pertencimento da terceira idade com a comunicação das marcas.

E, depois de ler tudo isso até aqui, você não está pensando que estar preparado para eles é ter um produto focado em velhinhos, não é? Eles querem inclusão de acordo com a sua realidade. Nem no estereótipo de idoso de bengala e nem no estereótipo de celebridades de capa de revista de moda. Existe um enorme abismo entre estas duas vertentes que está praticamente inabitado pelas marcas. Principalmente no meio online. Eu arriscaria a dizer que a maioria dos anunciantes restringe seus anúncios para públicos até 45 ou 50 anos. Afinal, a maioria das mensagens criadas por eles realmente não está destinada a esta geração acima de 60 anos.

Estejamos prontos para eles. Desde smartphones que aumentam as letras para facilitar a leitura, Facebook que permite o encontro e socialização de amigos de longa data, familiares e até mesmo novos namoros, YouTube que já virou um Google de buscas por informações diversas, etc.

Estejamos prontos para um mundo com menos estereotipização e mais conexão para um público que, em breve, irá viver a maior parte da sua vida acima dos 60 anos. Isso fará bem para as marcas e bem para esses grandes e importantes consumidores.

Gustavo Camarano

Gustavo Camarano

Diretor Criativo e de Resultados

Atualmente trabalhando em um grande desafio: impulsionar negócios dos clientes por meio de estratégias relevantes de comunicação. Sócio e Diretor Criativo da 2 Pontos Comunicação – uma agência focada em planejamento estratégico. Afinal, a comunicação deve ser pensada, seja on, off ou onde estiver.