O que a vida quer da gente é coragem, já dizia o escritor mineiro Guimarães Rosa em “O Grande Sertão Veredas” – livro que li aos meus 14 anos e muito bem guardado em minhas memórias. E eu, uma simples mortal que sou, nem ouso pensar o contrário. Aliás, em alguns momentos da minha vida, sempre ouvi de familiares e amigos a seguinte frase: “nossa, como você é corajosa”. Até aí tudo bem, o fato é que somente agora me dou conta disso. E por que somente agora? Ah, como é bom essa tal maturidade, nada como olhar para trás e para dentro de si mesmo para valorizar cada conquista, por menor que seja. E que fique claro, ter coragem não significa ausência de medo. Mas, sim, seguir em frente e não se deixar paralisar pelo desconhecido, apesar dos riscos.

Mas você deve estar se perguntando, “por que muitos a julgam como uma pessoa corajosa?”. Então, vamos lá! Com apenas 16 anos já atuava como atriz e tive meu primeiro emprego na TV Cultura como editora de um programa de esportes e co-produtora de um programa de entrevistas. Depois disso passei no vestibular e vim morar em BH quando imediatamente comecei a estagiar na Assessoria de Comunicação da SLU-PBH, onde implementamos a coleta seletiva por meio da ferramenta teatro. Na sequência, com 21 anos, fui trabalhar como analista de marketing de uma grande rede de franquias no segmento de cosméticos e perfumaria. Pois bem, 18 meses depois já ocupava o cargo de gerente nacional de marketing da empresa, com cerca de mil lojas em todo o Brasil. Sete anos depois, tinha tudo que uma jovem, com apenas 28 anos idade, poderia sonhar. Era uma profissional reconhecida e querida pelos meus líderes, ótimo salário, estabilidade e vários benefícios. Estava no auge da minha zona de conforto. Até que, um certo dia, um amigo muito querido veio me contar sobre o processo de concorrência do Festival Internacional de Teatro, o FIT, organizado pela Prefeitura de BH, para contratação de agência de comunicação. Sabendo da minha paixão pelo teatro e da minha experiência em comunicação, me perguntara se eu não gostaria de participar da reunião de briefing para as agências de comunicação. E eu, claro, aceitei na hora.

Como assim? Essa não era a minha ‘praia’, muito menos tinha uma agência de comunicação. O fato é que no dia marcado lá estava eu, mas apenas na condição de uma Relações Públicas que, não por acaso, era gerente demarketing de uma rede de franquias. O que eu não sabia era que, uma vez ali presente e em meio a tantos profissionais da comunicação, seria convidada a me apresentar e, claro, também a minha agência. Fui pega de surpresa, e para não passar ‘carão’ fui logo dizendo o meu nome e, na sequência, o nome da minha empresa, 2 Pontos Comunicação. Não me pergunte de onde tirei esse nome, foi o que me veio à cabeça em questão de segundos. Um verdadeiro teatro do improviso (rs).

Passado o susto, o passo seguinte era participar da concorrência da PBH. E assim eu fiz. Muitas noites viradas em pesquisas e esboço com uma colega designer renderam uma feliz surpresa: a 2 Pontos Comunicação foi a agência vencedora. E de novo me perguntei: “como assim?”. Gente, eu tinha um emprego, adorava o meu trabalho e sequer um dia passou pela minha cabeça ter uma agência de comunicação. Abrir mão de tudo era realmente uma loucura; e uma decisão de muita coragem (ou seria demência?).

Bom, encurtando um pouco o meu relato, eis que recebo um telefonema numa quinta-feira, à tarde, do coordenador do festival. Este me parabenizava pela conquista e aproveitou a ocasião para marcar uma visita à agência pois queria me apresentar a equipe que faria a interface do festival comigo. A data da visita? Na próxima quarta-feira. Que desespero!!! Tinha somente cinco dias para montar a minha agência, e isso incluía alugar um imóvel, comprar móveis, equipamentos, computadores, contratar funcionários e adquirir uma linha telefônica. Pense numa pessoa totalmente desesperada: muito prazer, Luana (risos, pra não chorar). Não tinha escolha, a não ser atender o Festival da melhor maneira possível, honrando a confiança de toda aquela equipe competente e admirável.

Leal aos meus princípios e à empresa em que trabalhava, procurei o meu chefe direto, o presidente da franqueadora, e contei a ele exatamente tudo sobre a “enrascada” em que havia me metido. Ele, extremamente bem-humorado, me chamou de maluca e me orientou a tirar férias (já vencidas), resolver a situação e retornar ao final de um mês. Parecia simples, só que não. O festival era um evento grandioso e requeria uma dedicação full time de quase cinco meses de trabalho. Sendo assim, pedi uma semana de folga para “montar” a agência, e, num ritmo frenético, aluguei uma sala em dois dias, sem fiador. Consegui, ainda, uma linha telefônica, sendo a mesma instalada à véspera da visita. Para o mobiliário, uma ajuda valiosa do meu marido, uma mesa de reunião com seis cadeiras. Levei meu computador, um aparelho de fax e uma mesa que tinha em casa. Uma amiga e dois amigos levaram seus computadores; coloquei-os sobre uma bancada improvisada e, além de emprestarem seus computadores, fizeram, também, o papel de figurantes, como se fossem designers, durante a reunião. E não é que deu tudo certo? Ufa!

Mas havia muito o que fazer. Pedi demissão, e, enquanto ia em busca do CNPJ da minha empresa para fazer o contrato com a PBH, entrevistava profissionais para assumir o meu cargo na franqueadora. Ao mesmo tempo, buscava outros parceiros designers, produtores gráficos e redatores para começarmos a 2 Pontos Comunicação, que nasceu oficialmente em março de 2000. Foram dias intensos e altamente produtivos. A adrenalina era motivadora e eu não pensava em outra coisa que não fosse meu novo trabalho e minha equipe, a qual acreditava em mim até mais do que eu própria. Deu tudo tão certo que, com menos de três meses de vida, a agência já tinha outros dois novos clientes. E as entregas criativas do FIT foram tão assertivas que conquistamos a conta do festival por mais três edições consecutivas (2002, 2006 e 2008).

Dezoito anos se passaram, alcançamos a maior idade e, analisando o começo de tudo, uma certeza: nenhum arrependimento. Se foi fácil? Não foi (definitivamente, não). Empreender requer muitos desafios e, em alguns, porém não raros momentos, pensei em desistir. Mas também defendo que a gente precisa pagar pra ver e, mesmo com medo, ir adiante, perseverar. Essa é a diferença entre acreditar nas suas ideias (intuições, ou seria a voz do coração?) e não desistir nos primeiros obstáculos ou até mesmo antes deles.

Tenho um orgulho tremendo da minha história, da 2 Pontos e da minha equipe, hoje, com mais de 30 pessoas envolvidas e apaixonadas pelo que fazemos pelos nossos clientes dos mais diversos segmentos, inclusive multinacionais. É gratificante ter clientes que estão conosco há muitos anos numa relação de confiança, transparência e resultados.

Mas, o que é, afinal, essa coragem que persiste até hoje em mim? Para entender melhor o significado da palavra, busquei sua origem. A expressão vem do latim: “coractium” e significa “a bravura que vem de um coração forte”; do latim para o português, a palavra sofreu algumas alterações. Com isso, o sufixo latino – “aticum” – foi substituído pelo sufixo português – “agem”, o qual indica a atuação de alguma coisa. Assim, coragem significa, literalmente, a “ação do coração”. Por tudo isso, repito: há que se ter MUITA coragem.

Luana Caldeira

Luana Caldeira

Diretora de Estratégia e Inspiração

Luana Caldeira é mineira, CEO e diretora de estratégia e inspiração na 2 Pontos Comunicação desde 2000, CMO na Nextin Inteligência Digital e CMO na empresa Marketing de Autoridade. Também realiza consultoria de marketing estratégico, não importa o tamanho do mercado, porque o propósito sempre é o mesmo: resultados impressionantes para a marca.